Dias 7 a 12

Dia - 17/03/2011
Santiago (CH) – Vina Del Mar (CH) – Santiago (CH), 284 km

Neste dia, já com o relógio acertado, tomamos o café da manhã cedo, pois queríamos aproveitar bem o dia que teríamos pela frente. Saímos as 8:30 em direção a Valpaíso com um céu impecável, sem uma núvem se quer e com um friozinho de 8oC. Antes de cair na estrada parei para abastecer em um posto Copec (equivalente ao nosso BR) ainda dentro da cidade e tive uma certa dificuldade, pois não havia frentista. Você tem que deixar a identidade com a caixa, você mesmo abastece e depois ao pagar reavê a identidade.

Como todas as estradas chilenas as que pegamos neste dia eram um sonho, no início quadrupla, depois tripla e por último dupla. Muito bem sinalizadas e nas grandes descidas há saídas de emergência com caixas de brita, muitos túneis e pedágios com valores justos. Ao total neste dia gastamos 1600 pesos o equivalente a R$ 5,48 em pedágios. A velocidade permitida varia de 80 a 130 km/h dependendo do trecho e há muita fiscalização portanto é bom respeitar.

Paramos em um posto entre as cidades de Valparaíso e Vina del Mar para ir ao banheiro e tirar um pouco de roupa, pois a temperatura já estava beirando os 20 graus. Ao descer da moto observei que o lado esquerdo dela estava totalmente lambusado de óleo bem como minha bota e minha calça. Verifiquei de onde vinha o vazamento e fiquei tranquilo rapidamente pois o mesmo estava sendo originado do litro de óleo reserva que eu estava levando preso ao protetor de motor desde Curitiba. Tive que jogá-lo fora para não causar mais estragos e fiz uma limpeza porca com guardanapos tanto da moto como da roupa.

Dali fomos ao funicular Artilleria, que não é o mais antigo nem o mais alto dos quinze existentes na cidade, porém é o com a vista mais bela da cidade. Ele foi construído em 1912 e a última manutenção acredito que deve ter sido em 1913, pois é assustador.... Os trilhos são tortos e a cabine, toda em madeira, ter frestas para todos os lados. Como trabalhei por muitos anos com manutenção / engenharia fiquei observando o mecanismo de tração, bem como os cabos de aço e posso afirmar que são seguros, somente a aparencia é feia, podem visitá-lo.

No topo dele a vista de Valparaíso é magnífica, com o Pacífico em um tom de azul muito diferente do que vemos nas águas do Atlantico. Tiramos muitas fotos, para variar e compramos alguns soufeniers antes de retornar a base do morro onde havíamos deixado a moto. Por sinal, paramos a moto junto a uma lojinha de sufeniers anexa a bilheteria do funicular. Na volta o rapaz não quis gorjetas e minha mulher resolveu comprar algumas lembrancinhas para recompensar a boa vontade. Pegamos a beira mar e fomos em direção a Vina del Mar distante a poucos quilômetros dali. As duas cidades são emendadas, mas o contraste é gigantesco. Valparaíso é organizada e arrumada, mas Vina del Mar.... é um luxo só!

Após fotos no relógio das flores e jardim de entrada fomos direto para a praia, pois eu tinha como meta mergulhar no Pacífico. Não deu, faltou coragem, a água é muito fria. Até minha mulher que não liga muito para isso não quis entrar. O continente sul americano do lado do Pacífico é banhado por uma corrente marítima chamada Humbolt vinda diretamente da Antartida e não permite que a temperatura da água passe dos 10 graus, mesmo no verão. Para se ter uma idéia existem até leões marinhos na região. De qualquer forma molhamos os pés e curtimos a paisagem por algumas horas. Caminhamos pelo cansadão e almoçamos em um restaurante a beira mar, cujo o deck avançava sobre a praia criando um ambiente agradabelíssimo. A comida era tão boa quanto o lugar.

Por volta da 17:00 pegamos a estrada para retornarmos a Santiago e só fizemos uma parada no caminho para abastecer. A autonomia da XT permitia ir e voltar sem abastecer, mas sem muita folga. Como não gosto de correr riscos desnecessariamente abasteci. Chegamos ao hotel ainda com a luz do dia e mais uma vez pegamos o trânsito do fim de tarde. Como estávamos bem cansados optamos em pedir um lanche no hotel mesmo.





Dia - 18/03/2011
Santiago (CH), 0 km

                Aproveitamos o máximo que deu a cama e fomos para o café da manhã nos últimos minutos que o restaurante permitia, pois o dia seguinte seria o mais cansativo da viagem (mais de 800 quilômetros de deslocamento com poucas atrações e com garupa). Fomos a pé em direção ao Cerro Santa Lucia, local de fundação da cidade, localizado bem no centro da cidade. Quase voltamos para o hotel, pois no caminho assistimos a um acidente de moto, vimos um carrinho de pedreiro cair de um prédio em construção sobre uma Van e um garoto quase ser atropelado. Como não cremos em superstição seguimos nosso caminho, é claro que com cuidado redobrado. O cerro é muito bonito, desde a sua base até o todo. Fomos subindo devagar, passeando e tirando fotos, por isso não cansamos. O que é legal deste cerro é que ele é cheio de platôs, com bancos e lanchonetes. Do topo avista-se a cordilheira, o cerro San Cristóbal e muitos prédios. Quando começamos a descer descobrimos que existe um elevador panorâmico gratuito para acessar o cerro. Bom, já que na subida fomos passeando por todos os platôs resolvemos descer pelo elevador, isso nos poupou pelo menos um 15 minutos de escadas.

                Como já eram quase 2 da tarde andamos pelo centro zig zagueando pelas ruas até chegarmos ao Mercado Central onde almoçamos no restaurante Donde Augusto. Pedimos uma paeja inteira, o que é um crime, pois o prato serve muito bem 4 pessoas. Retornamos ao hotel a pé novamente, sempre fazendo caminhos diferentes para conhecer e curtir um pouco mais a cidade.

                Por volta das 5 da tarde fui com a moto até um posto a 8 quadras do hotel para abastecer e dar uma ducha na moto, pois estava imunda desde a chuva do primeiro dia de viagem e agora melada de óleo. Além disso dei aquela geral básica; estivar / lubrificar corrente, verificar nível de óleo, observar / reapertar parafusos, etc. Afinal já havia rodado 3474 km desde a partida. Enquanto isso a Carla ficou no hotel arrumando as malas.

                Saímos para jantar e não gostamos da cara dos restaurantes próximos ao hotel, então decidimos por uma refeição de primeira, Mc Donalds.







Dia - 19/03/2011
Santiago (CH) – Pucón (CH), 807 km

Acordamos as 7:30 e as 8:45, 15 minutos depois do programado estávamos saindo do hotel, já de café tomado. O GPS nos tirou da cidade muito facilmente e o transito ajudou bastante, de forma que antes das 9:00 já estávamos na estrada rumando para o sul.

Conforme mencionei anteriormente o dia seria de deslocamento com um único ponto turístico para ver, o Salto de Las Lajas, que de acordo com a programação só iríamos fazer se estivéssemos bem dispostos, pois iríamos “perder” algumas horas de um dia muito cheio.

Como era um sábado nos primeiros 100 quilômetros encontramos muitos motociclistas que estavam fazendo passeios de bate e volta, pelo menos é o que deduzo, afinal estavam em grupos e todos sem bagagens.

Paramos somente para abastecer em San Fernando, Tacna e Chillan onde almoçamos já a 402 quilômetros de Santiago. Quando estávamos saindo do posto chegou um motociclista em viagem solo com um BMW F800GS amarela com placa da comunidade européia. Não tive oportunidade de conversar nenhuma vez com ele, mesmo “topando” mais 4 vezes no decorrer da viagem. Duas vezes em entradas ou saídas de abastecimentos, uma sendo ultrapassado por ele e outra quando ele foi parado pela polícia caminera. Em função do rigor com relação as leis de transito eu estava andando no máximo até 130 km/h, só um pouco acima do permitido que era de 120 km/h e por isso imagino que não fui parado nenhuma vez.

No trajeto todo pude observar que o céu a nossa esquerda estava sempre acinzentado em função de queimadas e mais uma vez ofuscando a beleza da cordilheira. Felizmente em alguns pontos conseguimos ver alguns vulcões. Não conheço todo o Chile, mas posso afirmar que esta região é uma das mais desenvolvidas do país, há muitas vinículas, plantações e industrias. Uma prova do desenvolvimento da região é a quantidade de cidades relativamente grandes.

Como tinhamos mais de 400 quilômetros pela frente e já eram 14:30 optamos em não parar no Salto Las Lajas, fica para uma próxima....

Fizemos outras paradas para abastecimento em Los Angeles e Temuco e mais uma parada para comer amoras que estavam a beira da estrada, além de colocar mais algumas roupas. Poucos quilômetros a frente saímos da ruta 5 e fomos em direção ao destino do dia, Pucón. A partir deste ponto a estrada é de pista simples e constantemente avistávamos o magestoso vulcão Villarica a nossa frente. Como teríamos 2 dias inteiros na cidade tocamos direto e não tiramos fotos. Passamos por dentro de Villarica e chegamos ao albergue que tinhamos escolhido pela internet as 19:00 ainda com a luz do dia, fechando assim um trajeto de 807 quilômetros em 10 horas e 15 minutos incluindo todas as paradas.

Nos acomodamos, tomamos um bom banho e fomos passear pela cidade, agora a pé. Jantamos uma boa massa em um restaurante acolhedor e fomos dormir para esticar o esqueleto. Sobre a cidade vou deixar para comentar na sequencia.




10º Dia - 20/03/2011
Pucón (CH), 0 km

Acordamos as 9:00 e fomos para o café da manhã do albergue que é muito simples, porém delicioso. Pães aquecidos com manteiga, queijo e presunto, chá, café e leite, isto tudo em uma ambiente aquecido por duas lareiras, precisa mais? Passamos no quarto para pegar a mochila, vestir mais roupas e saímos para passear. O albergue fica num lugar chamado península a uma quadra do lago Villarica e foi por ali que começamos o passeio. Quando chegamos ao lago ficamos encantado com a beleza dele e ao mesmo tempo ficamos tristes, pois o vulcão estava encoberto.

Fomos a busca das agências de viagem para contratar os passeios que havíamos programado para os dois dias que permaneceríamos em Pucón. Pretendíamos ir a Ojos de Caburga, Lago Caburga, Parque Huerquehue no primeiro dia e no segundo dia fazer o passeio de andarível (teleférico com pequenas cadeirinhas) e vôo sobre o vulcão Villarica. Entramos em uma dúzia delas e nenhuma se dispos fazer os passeios que queríamos, praticamente todos queriam nos empurrar a escalada do vulcão e para os demais passeios vendiam somente os ingressos e diziam para irmos de ônibus de um para o outro.

Saímos meio chateados e decidimos procurar um taxi para fazer os passeios por conta. O primeiro que paramos fez um preço bem acessível (30000 pesos = R$102,74). Andres, o motorista do taxi, foi muito mais que um motorista, ele foi um excelente guia turístico, pois além de nos levar aos locais que solicitamos, levou a outros que não tinhamos idéia em passar, explicou toda a história da região e tirou fotos para nós. E o mais importante, sem nos apressar – ficamos das 12:10 até as 17:30 passeando pela região em seu Hunday Accent.

De cara saímos da estrada principal para irmos ao rio Tacurga, por um caminho que não é feito pelos ônibus. Dali fomos serpenteando entre morros e rios límpidos por estradas de terra até chegarmos a Ojos de Caburga que é uma poço com água muito verde e transparente com diversas quedas de todos os lados que brotam da terra. Segundo o Andres a água é proveniente do Lago Caburga e chega até ali por fendas no solo. É um lugal fantástico, não pode ficar de fora da lista de passeios de Pucón.

Dali fomos para Lago Caburga, que possui bonitas praias e é muito grande. Neste momento o céu abriu e foi possível ver o vulcão por inteiro, apesar de estarmos um pouco longe dele. Deste ponto fomos em direção ao parque Huerquehue, por uma estrada muito sinuosa e estreita e após quase 40 minutos dentro do taxi chegamos ao parque, onde o Andres negociou para que entrássemos sem pagar. Lá existem vários lagos e lagoas, sendo a Lagoa Toro a maior. Ficamos por alguns minutos curtindo o lugar e tirando fotos, só não ficamos mais pois apesar do sol estava frio por conta do vento e havíamos deixadas nossos agasalhos no carro.

Retornamos ao taxi e imaginávamos estar voltando para o centro quando o Andres parou de novo, agora num lugar chamado 3 Saltos. Acho que o nome já diz tudo. A noite olhando os mapas percebi que o Andres saiu bem do caminho de retorno para nos mostrar mais esta atração da cidade que é pouco conhecida, mas que vale a pena ser visitada. Antes de sair do taxi fechamos o passeio do dia seguindo com o Andres, que ficou de nos pegar as 7:00 para nos levar ao Vulcão Villarica e fazermos o passeio de andarível.

Enquanto procurávamos uma agencia que nos atendesse andamos por toda a cidade, pois ela é muito pequena. O que ela tem de pequena tem de bonita e organizada. Se fosse resumir em poucas palavras eu diria. Pucón é uma cidade cenográfica. É prazeroso andar pelas ruas.

Retornamos para o hotel somente para um banho pois tinhamos mais um passeio pela frente. Banho nas termas Los Pozones. As 19:30 parou a van em frente a pousada e em meia hora já estávamos nas termas. Estas termas são tidas como as mais rústicas da região e talvez justamente por isso amamos. Existem uns 5 tanques cuja água totalmente transparente brota da terra e com temperaturas de 25 a 42 graus aquecidas pelo vulcão. O detalhe que a temperatura externa estava em 6 graus. Passando próximo aos tanques de pedra corre um rio cuja a temperatura da água é congelante, o que no mínimo é intrigante, pois temos água aquecida e fria praticamente no mesmo local.

As 23:00 retornamos para a van e assim que ela começou a andar todos os passageiros dormiram, pois o banho é realmente muito relaxante. O passeio vale a pena e minha sugestão é fazê-lo de noite, assim sobre mais tempo para outros passeios.




  







11º Dia - 21/03/2011
Pucón (CH), 0 km

A noite inteira choveu muito e por conta disso eu tinha quase certeza que o andarível estaria fechado, dito e feito. Para não ter dúvida eu estava as 7:00 em ponto em frente a pousada esperando pelo Andres e ele por consideração a nós chegou lá pontualmente somente para informar que não seria possível subir o vulcão.

Voltei para a cama e dormimos até bem mais tarde neste dia, quase onze horas, pois a chuva não dava trégua. Optamos em descansar e passear pela cidade sem compromisso e foi o que fizemos, valeu a pen'a. Para fechar o dia sentamos a beira do lago e ficamos “soprando” para ver se conseguiríamos afastar as nuvens e conseguir assim tirar uma bela foto do vulcão, mas infelizmente o nosso fôlego não foi tão forte assim – não conseguimos ver nem a base do vulcão neste dia, quem diria ele por inteiro.

Antes de anoitecer peguei a moto e fui a um posto, para abastecer e dar a geral básica. Retornei ao hotel e arrumamos praticamente toda a bagagem. Enquanto faziamos um bom lanche (no quarto mesmo) discutíamos o trajeto do dia seguinte, pois fomos informados pelo dono da pousada (que também é motociclista) que os próximos 4 dias o tempo estaria igual ao de hoje. Ou seja, o contorno ao lago Lhanquihue que pretendíamos fazer para ver de perto os vulcões Calbuco e Osorno não teria graça – não veríamos nada.








12º Dia - 22/03/2011
Pucón (CH) – Osorno (CH), 434 km

Depois de algumas horas de conversa na noite anterior optamos em ir até Osorno ao invés de ir até Puerto Varas. Como o trajeto era curto saímos as 10:00 horas e as 15:30 já estavamos no centro da cidade. Nos instalamos e rapidamente voltamos para estrada para ir até a cidade de Puerto Oktay distante 45 quilômetros, que fica as margens do lago Lhanquihue com a esperança de ver os vulcões mencionados anteriormente.

Infelizmente não foi possível, pois só se viam nuvens conforme imaginávamos. Como diz o o ditado, a esperança é a última que morre. Valeu para conhecer a cidade que é bem bonitinha e o lago impressiona pelo tamanho. O interessante que o mirante com a melhor vista do lago e dos vulcões que “dizem existir” é dentro do cemitério da cidade. Quando estávamos nos preparando para retornar a Osorno apareceu um casal de Curitiba que estava fazendo toda a região dos lagos andinos de bicicleta.

Antes de escurecer já estávamos de novo a cidade e enquanto fui abastecer a moto num posto na esquina do hotel a Carla foi tomar um banho. Por volta das 20:00 fomos a uma pizzaria e me acabei de comer..... Fomos dormir cedo, pois o dia seguinte prometia muito, pois iríamos fazer uma das estradas mais bonitas do mundo. O trajeto é curto, mas com o número de paradas para fotos com certeza demoraríamos bastante para cumpri-lo.