Dias 1 a 6

1º Dia - 11/03/2011
Curitiba (PR) – São Luiz Gonzaga (RS), 919 km

Depois de mais de um ano de estudos e preparativos chegou a hora de pegar a estrada. Despedi-me da Carla (minha mulher), que eu voltaria vê-la em dois dias já em Mendoza (AR), e as 6:00 em ponto saí de casa em direção ao contorno sul para acessar a BR-116, rodovia que percorri até Vacaria.

 A temperatura estava agradável, em torno dos 16ºC, e céu nublado. Nos primeiros quilômetros um turbilhão de pensamentos me vinha à cabeça, sempre muito preocupado se tudo iria dar certo e se a Carla iria gostar de fazer uma viagem tão longa como esta. A estrada estava movimentada até a Fazenda Rio Grande (como sempre) e após ficou muito tranqüila, sempre com caminhões, mas nada que atrapalhasse, pois rapidamente era possível passá-los. A pista é simples em todo o percurso que peguei com alguns trechos com terceira faixa e em toda a extensão sem buracos. No trecho paranaense e catarinense motos pagam pedágio (R$0,60) o que incomoda muito, pois o tira e põe de luvas cansa.

Na serra do espigão próximo ao município de Santa Cecília começou uma pequena garoa, mas o suficiente para molhar o asfalto. A região estava cheia de pontos com desmoranamentos em função das fortes chuvas que caíram durante o verão deste ano e por conta disso havia muito barro na pista que era levantado pelos caminhões. Resumindo em poucos minutos a moto estava totalmente marrom, assim como eu. Estas condições permaneceram até Vacaria onde parei para “almoçar” em um posto de gasolina já por volta de meio dia.

                Falando em almoço, durante viagens eu adoto fazer vários lanches durante o dia sempre em postos de gasolina e deixo a refeição principal por conta da janta após já ter me instalado em um hotel e tomado um bom banho. O motivo para isso é não ficar com o estômago vazio por muito tempo e depois muito cheio após o almoço que naturalmente diminui a atenção e dá muito sono.

                Sai do posto, cruzei Vacaria e peguei a BR-285 em direção a Passo Fundo. Este trecho da viagem ainda estava com o asfalto molhado e com um transito um pouco mais intenso do que na BR-116, além de ser uma estrada com muitas curvas. Portanto foi um trecho que não rendeu muito, pois não consegui passar dos 80 km/h.

                Antes de continuar o relato do dia gostaria de fazer um comentário quanto a vestimenta. Sempre para viagem uso calça e jaqueta de cordura e quando observo que a chuva vai durar algum tempo coloco capa para chuva da marca Alba (aquela dos motoboys mesmo) por cima, pois o conjunto de cordura agüenta a chuva porém ele começa a gelar depois algumas horas tornando a viagem desagradável. Quanto a luva sempre uso um par de couro forrado e durante a chuva visto um par de luva impermeável por cima.

                Voltando a estrada....Ao chegar em Passo Fundo o sol começou a dar as caras e quando parei para abastecer tirei toda a roupa de chuva fiz mais um lanche e segui direto até Ijuí, onde parei para abastecer novamente. Este trecho estava muito movimentado com caminhões e algumas obras que atrapalhavam mais ainda o andamento da viagem. Enquanto abastecia analisava a situação para decidir aonde iria parar para dormir. Durante o planejamento pesquisei opções de hotel em Ijuí e em São Luiz Gonzaga e planejei decidir em qual cidade ficar conforme o horário / cançaso em que me encontrasse. Como ainda eram 18:00 e o sol ainda estava relativamente alto decidi continuar.

                Rodei mais 116 quilômetros, agora além do movimento com sol na cara, e 1 hora depois estava no trevo de acesso a cidade. A chegada ao hotel foi tranquila, pois o GPS se encarregou de me levar ao hotel Ipê (escolhido ainda em Curitiba). Instalei-me, tomei um bom banho e fui jantar (fazer uma refeição de verdade). Fiz um pequeno city tour a pé mesmo e por volta das 22:00 estava novamente no quarto do hotel pronto para dormir e preparar-me para o dia seguinte. Porém ainda tinha algo extremamente importante a fazer, falar com minha mulher.

Ela estava se preparando para viajar também pois em dois dias iria embarcar para Mendoza, mas o assunto principal não foi esse, foi o terremoto / tsunami no Japão e a ameaça de tsunami no Chile. Por conta disso ela chegou a brigar com seu pai, pois ele não queria que ela viajasse. Felizmente minha mulher não se amedrontou com os alertas e continuou preparando as malas.


Dia - 12/03/2011
São Luiz Gonzaga (RS) – San Franscisco (AR), 885 km

                Sempre fui rápido para me arrumar pela manhã e preciso cumprir os horários que estabeço para mim mesmo. Por isso são poucos os parceiros de viagem que não me estressam. Um deles é minha mulher e outro o marido de minha cunhada (viajamos juntos para o Ushuaia a 3 anos atras). Para essa manhã programei levantar as 06:45 para estar no café assim que ele abrisse as 07:00, comer e sair as 07:15 – foi o que fiz.

                O dia amanheceu muito bonito sem uma nuvem sequer no céu e com temperatura muito agradável. A estrada até São Borja está bem danificada com muitas ondulações e alguns buracos, depois melhorou bastante voltando a ficar ruim somente após Santa Fé.

                Em termos de paisagem nada mudou até chegar ao rio Ibicuí onde há uma ponte com quase 1400 metros de extensão e que passa carro em um único sentido, motivo pelo qual existem semáforos nos extremos. O rio é muito largo e belo com uma praia bem grande já no município de Uruguaiana. Infelizmente por não ter onde parar não foi possível tirar fotos.

Como já havia passeado em Uruguaiana quando retornara do Ushuaia desta vez fui direto para a ponte internacional que corta o rio Uruguai. Os 1419 metros que separam o Brasil da Argentina foram rapidamente percorridos e mais uma vez não foi possível bater fotos. Este trajeto deu um friozinho na barriga, pois sabia que estava saindo do meu porto seguro (o Brasil) para outro país e apesar de já ter feito isso outras vezes e estar muito bem preparado (documentações e informações) sempre há o risco de algo dar errado.

Parei no estacionamento da aduana e me dirigi ao guichê, onde fui atendido direto, pois estava bem vazio. Toda a documentação foi verificada e em menos de 10 minutos estava liberado para seguir viagem. Como havia abastecido em Uruguaiana passei direto por Paso de Los Libres e uns 10 quilômetros depois da cidade fui parado pela Gendarmeria (polícia rodoviária). Sendo super cordiais perguntaram para onde estava indo e pediram todos os documentos possíveis (carta verde, carteira de motorista, documentos da moto e autorização de viagem, pois a moto está no nome de minha esposa). Verificaram tudo e mandaram seguir viagem desejando suerte. Como fazia muito calor e era próximo do meio-dia suei muito durante este processo pois o sol estava pegando.

Segui viagem e não consegui rodar nem 30 quilômetros e outro grupo da Gendarmeria me parou. Desta vez antes de fornecer os documentos solicitei para parar sob uma arvore o que foi prontamente atendido pelo guarda. Novamente me pediram todos os documentos e me liberaram.

Este trecho da ruta 14 está em duplicação e há alguns desvios em rípio, mas nada para assustar, só ajudou a sujar ainda mais a moto, pois estava bem barrento – acredito que deve ter chovido muito na noite anterior. No trevo com a ruta 127 parei em um posto para abastecer, beber água (muita água) e almoçar empanadas. A ruta 127 é praticamente toda em concreto sem acostamento, somente com alguns pontos para parada e o mato em vários trechos está praticamente na pista, dando a sensação de sufoco. Apesar disto foi difícil de manter a velocidade que havia estipulado não ultrapassar durante a viagem, os 130 km/h. Na prática fui mudando este limite, passei para os 135 km/h neste mesmo dia e depois acabei fazendo trechos (já no dia seguinte) em que a meta era não passar os 145km/h e assim mesmo não foi fácil. Isto tudo pelo fato da estrada ser boa, plana, reta e praticamente sem tráfego.

Rodei 150 quilômetros nestas condições e parei em Federal para abastecer, dali até a Paraná nada mudou, exceto que começou a ventar e no horizonte eu via uma nuvem muito preta. Quando cheguei ao posto o vento começou a intensificar e o céu a ficar cada vez mais preto. Na esperança de não pegar a chuva saí sem por as capas de chuva como mencionei anteriormente e não deu outra. Ao sair do túnel que passa por baixo do rio Paraná o mundo caiu! Falando em túnel, este é uma obra de engenharia fantástica, pois tem 2937 metros de comprimento e está a 32 metros abaixo do leito do rio. Ele é formado por tubos com 10 metros de diâmetro. Da boca do túnel até o pedágio que fica a uns 1000 metros de distância foi difícil de pilotar, ali parei e esperei 20 minutos para a chuva dar uma acalmada.

Vesti a roupa de chuva por cima da roupa de cordura, que já estava um pouco úmida, e segui viagem. A ligação do túnel até Santa Fé é toda duplicada e passa por inúmeros canais (acho que são 10), sendo alguns bem largos. Após estes canais passei por dentro da cidade pois gostaria de conhecê-la, nem que fosse só de passagem. Deu para ter uma idéia do tamanho da cidade, mas infelizmente todas as ruas estavam alagadas, algumas com vários centímetros de água. Em função destas condições não tirei nenhuma foto sequer.

O GPS me levou para estrada e novamente voltou a chuva forte obrigando- me a parar em um posto de gasolina.  Ali esperei por mais de 30 minutos pois a chuva era realmente forte, com ventos e muitos relâmpagos. Enquanto esperava a umidade da roupa de cordura começou a me deixar gelado. Assim que a chuva diminuiu voltei para estrada que neste trecho também está sendo duplicada e com vários desvios (mais barro para a moto e para mim). Neste trecho o que judiou foi o vento lateral que insistia em me tirar da pista. Com ele veio o frio e o fim da chuva. A temperatura que estava em torno de 30ºC em Paraná caiu para 12ºC.

Finalmente cheguei ao meu destino, a cidade de San Francisco, as 19:55 ainda com claridade da luz do sol. Abasteci a moto, fiz um lanche e instalei-me no hotel Canadian. Antes mesmo de tomar um banho fui a um locutório para dar notícias e voltei direto para o hotel me esquentar. Liguei a calefação, tomei um bom banho, vi um pouco de notícias sobre o terremoto / tsunami no Japão e antes das 21:00 já estava dormindo.




Dia - 13/03/2011
San Franscisco (AR) – Mendoza (AR), 901 km

                Como neste dia queria conhecer Mina Clavero e gostaria de chegar antes da Carla no hotel em Mendoza sai bem cedo. Sendo assim acordei as 05:30, vesti a calça, a blusa e a luva segunda pele e coloquei os forros na calça e jaqueta de cordura para me adequar a temperatura que estava em torno de 8ºC.  As 05:45 já estava na estrada conforme planejado.

                Como estava indo para o ocidente desde que sai de Curitiba, o sol nascia e se punha cada vez mais tarde, tanto que no dia anterior as 19:55 ainda estava claro. Em função disto o sol só apareceu quando estava chegando em Cordoba próximo das 07:00 horas da manhã. Aproveitei para testar os faróis auxiliares que havia instalado alguns dias antes da viagem; ficaram ótimos, projetando um facho de luz no asfalto muito similar ao dos carros – valeu o investimento que nem foi tanto assim.

                Conforme a luz do dia ia aparecendo e aproximava-me de Cordoba avistava uma mancha preta no horizonte, que inicialmente parecia uma nuvem igual a do dia anterior. Felizmente o que estava vendo era a serra Mina Clavero, que eu até exagero em chamar de um aquecimento para a Cordilheira. Só para explicar um pouco, Cordoba está a aproximadamente a 600 msnm e na Mina Clavero a estrada chega a 2230 msnm (marcado no GPS), depois desce a 400 msnm em Villa Dollores.

                Parei em um posto um pouco antes de Cordoba onde abasteci, tomei café-da-manhã e ajustei o GPS para ir em direção a Villa Dolores, pois se colocasse Mendoza diretamente ele iria indicar o mesmo que todas as placas indicam, um percurso um pouquinho mais longo, porém praticamente reto e que contorna a Mina Clavero tornando-o praticamente plano. Sem dúvida diminuiria em pelo menos 2 horas a viagem, mas qual seria a graça???

                Contornei Cordoba, que é a segunda maior cidade da Argentina e depois de um pouco mais de uma hora já estava na estrada que me levaria a Mina Clavero. É uma estrada para quem quer passear, pois é estreita com muitas curvas e em vários trechos sem acostamento. Para compensar este “esforço” tem-se vistas deslumbrantes, que infelizmente não são bem retratadas nas fotografias pela dimensão, pelo menos com o meu dom e equipamentos fotográficos. Minha mulher, que é amante da fotografia, tem equipamento muito bom e sabe captar os melhores ângulos e por isso desde o nosso encontro em Mendoza (que aconteceria nesta noite) ela assumiu o papel de fotógrafo oficial da viagem. Das quase 3000 fotos tiradas, mas de 2700 são dela.

                Voltando a falar da estrada, ela é um tapete com curvas que apesar de fechadas convidam a correr, porém todo cuidado é pouco, pois os precipícios são grandes. Fiz várias paradas para apreciar a paisagem e uma última (antes de começar a descer) no mirante que existe muito próximo ao ponto mais alto da serra. Ali há um belo restaurante e loja de suvenires. A vista é muito ampla sendo possível enxergar longe (até aonde os olhos alcançam) e lá embaixo um belo lago e a cidade de Córdoba. Após passar para o outro lado da Mina Clavero as curvas começam a ficar mais fechadas e notoriamente a descida é mais íngreme. Deste lado é possível ver, lá embaixo, pequenos povoados e o rio Mina Clavero. Mais uma vez a vista é de tirar o fôlego e novamente parei várias vezes para curtir e tirar fotos.

                Ao final da descida chega-se a cidade de Mina Clavero, Nono e depois Villa Dolores. Todas elas são estruturadas em torno da estrada e de inúmeros rios que correm da serra. São arrumadas e voltadas para o turismo e por isso há um número considerável de cabanas para hospedagem.

Parei para abastecer e almoçar em um posto em Villa Dolores. Após abastecidos, a moto e eu, segui viagem em direção a Luján, onde meu plano previa virar a direita e ir para Lomas Blancas, La Tranca, Costa de Araujo e chegar a Mendoza. Por este caminho além de 30 quilômetros mais perto que o principal permitiria eu passar pelo Parque Nacional Sierra de las Quijadas. No plano, feito ainda em Curitiba, eu deveria abastecer em Lomas Blancas garantindo a autonomia para cumprir o trajeto. Seria um trecho de 145 quilômetros e outro de 234 quilômetros. Entretanto ao chegar ao posto tive a primeira surpresa negativa da viagem, ele estava sem Nafta. Ir com o plano tornou-se inviável e por isso retornei a Luján, onde para minha surpresa também não havia nafta na única estación de servicio da cidade. A opção agora era ir a São Luis para lá abastecer, o único problema que eu estava a 96 quilômetros de lá e no ritmo que estava andando (150 km/h) teria combustível para no máximo 60 quilômetros – lembra do que falei anteriormente da velocidade máxima por mim estabelecida para viajar? Como não tinha muito que fazer segui por este caminho, só que agora andando a 70 km/h o que garantiu a minha chegada a estación de servicio. A falta de combustível nestes postos me fez andar 130 quilômetros a mais e me impediram de conhecer o parque, mas tudo bem, faz parte.

                Seguindo viagem ao oeste agora já com o sol um pouco mais baixo e começando a incomodar saio da Provincia de Córdoba e entro na Provincia de Mendoza. A diferença começa pelas condições da estrada, que na primeira são perfeitas e na outra nem tanto embora estavam duplicando-a. Na divida entre as duas provincias passei por uma espécie de pulverizador no asfalto que aplica veneno nos pneus para combate a febre afitosa, mas como estava de moto o veneno também foi aplicado em mim, a sorte que estava com a viseira fechada, pois até o cabeçete foi pulverizado – portanto cuidado. Neste trecho de São Luis até Mendoza fiz uma única parada, só para abastecer em uma vila chamada La Dormida.

                Dali em diante a estrada já está toda duplicada e já é possível ver a cordilheira ao fundo, momento em que a emoção tomou conta de forma quase incontrolável (posso garantir que tomaria até dos menos emotivos). Mendoza é uma cidade grande e como todo cidade grande que se preze na América Latina, o trânsito não é o dos mais fáceis. Segui as orientações do GPS em um pouco mais de 30 minutos estava na porta do hotel as 17:35 horas cumprindo o meu objetivo de chegar antes da Carla, cujo o vôo estava previsto pousar as 18:15 horas.

                Para não nos estressarmos com a procura de hotéis nas grandes cidades, optamos em reservar aqui em Curitiba. Fizemos isso por meio da agência de viagens Cádiz Turismo, que fez um excelente trabalho, pois nos trouxe inúmeras opções de hospedagem por cidade. Ana Paula, a proprietária da agência, mesmo sabendo que não iríamos reservar todos os hotéis com ela (nas cidades menores e trechos de deslocamento), nos deu dicas com boas opções de hospedagem, bem como de alguns passeios. Também fizemos nossos seguros viagem e a reserva das passagens aéreas da Carla com a agência.

                Voltando a viagem.... Instalei-me, tomei um bom banho, e fui dar uma volta na Plaza Independencia, que fica a uma quadra do hotel. Para não correr o risco de me desencontrar voltei ao hotel as 18:30 e lá fiquei até as 20:00 horas quando finalmente a Carla chegou. Depois que ela tomou banho fomos jantar em um restaurante na esquina do hotel onde ficamos várias horas conversando (colocando o papo em dia).





Dia - 14/03/2011
Mendoza (AR), 110 km

                Como o objetivo da nossa viagem era curtir ao máximo cansando o menos possível, nos programamos para acordar as 8:30 e assim o fizemos. Após o café saímos a pé para dar uma volta pela Plaza da Independencia e a rua Sarmiento, na sequencia retornamos ao hotel, pegamos a moto, fomos em direção ao Cerro de la Glória e em poucos minutos já estávamos serpenteando pelo morro até chegar ao topo dele. Apesar do céu totalmente sem nuvens o ar estava bem gelado.

                Embora tenha somente 980 msnm o visual é muito bonito, sendo possível ver toda Mendoza aos nossos pés. O que mais me chamou a atenção neste morro foi a quantidade de placas homenageando a tudo que você possa imaginar. O lugar é  muito aprazível e por conta disso ficamos mais de uma hora tirando fotos e apreciando a paisagem. O Cerro de la Glória fica dentro do Parque Municipal de Mendoza, que tem uma grande áerea, é muito organizado, arborizado e bonito. Percorremos o parque em várias direções (de moto) fazendo praticamente todos os caminhos para conhecê-lo o máximo possível. Como já passava um pouco do meio-dia e tinhamos marcado uma visita a vinícula Catena Zapata as 15:30 resolvemos ir ao centro para almoçar. Só esquecemos de um detalhe, era uma segunda-feira e o trânsito estava caótico. Perdemos mais de uma hora tentando chegar ao centro até que desistimos e paramos a moto no hotel. Fomos a pé a rua Sarmiento e comemos umas empanadas deliciosas.

                Por conta do tempo perdido saímos as 14:50 em direção a vinícula e confirmando o que o GPS informou quando coloquei o endereço, só chegamos as 15:45. Praticamente todas as vinículas de Mendoza ficam para o mesmo lado e estão localizadas a uns 30 quilômetros do centro. A Catena Zapata fica na rua J. Cobos s/n, Agrelo, Luján de Cuyo (a 38 km do centro). O caminho é muito bonito e cada quilômetro que percorríamos ficávamos mais próximos da Cordilheira.

A visitação é guiada e pode ser em espanhol ou inglês e a reserva deve ser feita via internet. O tour dura um pouco menos de uma hora e é gratuíto. Como chegamos atrasados perguntei a recepcionista se poderíamos aderir ao grupo e ela nos indicou como encontrá-lo, porém quando chegamos a guia estava falando em inglês. Perguntei para a Carla se queria procurar o grupo em espanhol e ela disse que não e também não queria que traduzisse, só queria tirar fotos e curtir o local. A visita não é nada de mais e as explicações também não, perdem feio para uma visita que fizemos na vinícula Aurora em Bento Gonçalves (RS) alguns anos antes. O que chama a atenção é a ostentação da construção, é diferente de tudo que já havia visto. Tem o formato de um tronco de pirâmide e está bem no meio do parreiral. Estando no topo da contrução tem-se uma vista panorâmica do parreiral e ao fundo a Cordilheira com o Aconcágua nevado sobressaindo – é de tirar o fôlego.

Ao retornar para o estacionamento, agora com calma, observei que a moto estava parada praticamente dentro do parreiral, que diferente aos que já tinha visto, são cultivados na vertical (como um cerca). Apesar de menos detalhada a visitação se comparada a visita a vinícula Aurora em recomendo este passeio, é bem legal.

Na volta viemos curtinho as estradas vicinais e observando a quantidade de vinículas, dentre elas pudemos ver a famosa Chandon, além da belíssima paisagem composta basicamente por parreirais e a cordilheira majestosa ao fundo. Pegamos a estrada novamente e por volta das 18:00 estávamos no hotel já nos preparando para ir jantar.

Porém antes de ir jantar fomos a uma fábrica de alfajores (Dolcezza SRL na rua Las Heras, 431 a 4 quadras da Sarmiento), bem pequena e simples mas com produtos bem gostosos. Compramos alguns chocolates em rama e retornamos ao mesmo restaurante do almoço para comer mais empanadas, que sem dúvida foram as melhores que já comi.

De volta ao hotel começamos a arrumar as malas para o dia seguinte, o qual aguardávamos muito anciosos – a travessia da Cordilheira dos Andes.












Dia - 15/03/2011
Mendoza (AR) – Santiago (CH), 375 km

As 8:10 estávamos saindo da garagem do hotel conforme programado (10 minutos de atraso, o que dá para suportar, rsrsrs). A temperatura estava em torno de 10ºC e o céu de brigadeiro, uma promessa de excelentes fotos e um dia muito agradável.

A saída de Mendoza foi pelo mesmo caminho que havíamos feito ontem, quando fomos a Catena Zapata. Percorremos uma estrada dupla (ruta 13) até o entroncamento com a ruta 7 onde entramos em direção ao Chile. A partir deste ponto até Los Andes (já no Chile) a estrada é em pista simples e com muitas curvas, mas muitas mesmo! Acho que o número de curvas só perde para a beleza da paisagem.

A estrada é praticamente toda em um vale serpenteando entre enormes montanhas de visual inenarrável acompanhando o leito do rio Mendoza. Ela tem em vários pontos terceira faixa e o número de veículos era pequeno, o que permitiu andarmos em um bom rítmo, perfeito para curtir a paisagem e sem rastejar. Conforme íamos andando a sensação de que seríamos engolidos pelas montanhas ia aumentando.

Paramos na represa Potrerillos que fica 1380 msnm e a 70 quilômetros de Mendoza. A cor da água é de um verde escuro muito bonito e ao fundo montanha muito altas acinzentadas. Quando olhávamos para o outro lado o visual contemplava inúmeros cumes eternamente nevados. Acho que não preciso dizer que vale a parada. Enquanto curtíamos a paisagem várias vans paravam e os turistas (na grande maioria vindo de Mendoza para passar o dia na cordilheira) saiam e congelavam, enquanto minha mulher e eu passávamos calor por conta das roupas e do sol.

Retornamos a estrada e só paramos em um posto próximo a cidade de Uspalatta para abastecer e ir ao banheiro. Mas não se engane, pois minha mulher foi tirando muitas fotos. Como curiosidade, Uspalatta foi o local das filmes do filme Sete anos no Tibet estrelado por Brad Pitt. A cidade fica localizada numa região chamada de pré-cordilheira e é muito procurada para a prática de trekkings, cavalgadas e pesca.

Seguimos viagem e a nossa próxima parada foi na estação de esqui Los Penintentes, onde estava muito frio, imagino que algo próximo de 0 graus. Felizmente como estávamos bem preparados não passamos frio. Mesmo assim, valeu entrar no restaurante local e tomar um chocolate quente e curtir o calorzinho da calefação ambiente. Aproveitamos para almoçar (sanduíches) e descansar um pouco. Durante o nosso banquete obervamos um grupo de 7 ciclistas o que nos trouxe conforto no sentido de que não somos os mais loucos na estrada.

A estação tem grandes hotéis que estavam praticamente todos fechados, pois era fim de verão e não havia neve alguma nas pistas de esqui – dava para ver somente os teleféricos em meio a “rampas” de pedra nas encontas das montanhas. Depois de quase uma hora no local retomamos a estrada e continuamos subindo até chegar a Puente del Inca, que fica a 2720 msnm. Já rente ao estacionamento existe uma feirinha onde vende-se de tudo o que possa imaginar petrificado, isto porque o rio que corre no vale a alguns metros dali possui muito calcário e tudo que fica dentro dele por algum tempo petrifica-se. Após cruzar a feirinha avista-se a ponte natural, muito bela e indescritível. De qualquer forma vou tentar explicar o que é. Até a decada de 60 havia um hotel no local que foi parcialmente soterrado por uma avalanche. Esta também mudou parte do curso do rio, que passou a escorrer sobre o hotel e da mesma forma que faz com os objetos vendidos na feirinha foi petrificando o hotel, além de formar uma belissima ponte cor de ferrugem – é uma imagem surreal.

Retornamos a estrada e dois quilômetros a frente paramos de novo, agora para ver de perto o Aconcágua. Deste ponto em diante o tempo fechou e aquele céu de brigadeiro cedeu espaço para muitas nuvens e a consequencia foi óbvia, o frio apertou. Já no estacionamento na sede do parque encontramos um grupo de 7 motociclistas que estavam retornando ao Uruguai, de onde partiram 22 dias antes. O pontos turísticos que haviam percorridos eram os mesmos que percorríamos nos próximos dias. Todos eles estavam pilotando motos Honda Transalp 700.

Comprei os ingressos (10 pesos por pessoa para o passeio que iríamos fazer) e fomos em direção ao outro estacionamento distante uns 1500 metros da base do parque. Por ser perto não coloquei as luvas e me arrependi muito! Quase congelei os dedos!

A partir deste ponto o caminho só pode ser feito a pé, mas pode ficar tranquilo não é nenhuma escalada que exija preparo físico de atleta. É claro que a altitude judia um pouco e de tempos em tempos éramos obrigados a parar para recuperar o fôlego. A trilha vai margeando pelo lado esquerdo um grande vale, sempre em uma leve subida e no horizonte a frente a imagem do cume nevado do Aconcágua com seus 6962 metros e o título de pico mais alto das américas . Já nos primeiros metros nos deparamos com a laguna Espejo. Depois de uns 30 minutos de caminhada com as pausas para fotos chegamos ao final da trilha que nos propusemos a fazer (e que o ingresso permitia). Lá há um mirante com a placa do Aconcágua e uma vista deslumbrante, só não mais deslumbrante pois o céu estava muito nublado. Ficamos alguns minutos curtindo a paisagem e começamos a trilha de retorno que passa pela Laguna Horcones a 2950 msnm.

As 16:30 retornamos a estrada e 15 quilômetros depois paramos novamente, agora no ponto mais alto da viagem a 3209 msnm na entrada do Túnel Cristo Redentor. Enquanto tirávamos fotos fomos coroados.......começou a nevar! Tudo bem que eram pequenos flocos que nem chegavam a se acumular sobre a moto e durou pouco mais de 5 minutos, mas já valeu. Como ainda tinhamos mais de 100 quilômetros pela frente e os caracoles para curtir seguimos viagem deixando a Argentina para trás.

A aduana chilena estava em reforma e por conta disso um pouco bagunçada, entretanto foi relativamente rápida, no máximo 40 minutos incluindo a revista da bagagem pelo agente de fronteira e do carrocho labrador que cheirou tudo. Tanto os guardas quanto o carrocho foram muito amáveis e permitiram até fotos.

Atente que não fizemos os trâmites aduaneiros na Argentina, pois passamos direto. Ela fica uns 500 metros antes do acesso ao Parque Provincial do Aconcágua e quando passei achei que era parte da sede do parque. Ao sair do parque fui direto ao Túnel Cristo Redentor que tem 3900 metros de extensão em direção ao Chile. Fiquei com preguiça de voltar e acabei deixando os trâmites para trás.

Saindo da aduana finalmente fomos aos caracoles e seguindo as dicas que peguei na internet paramos somente na curva 17. Dela tem-se o melhor ângulo para tirar fotos com uma sequencia incrível de curvas. Para quem nunca ouvir falar ou leu sobre os caracoles, segue algumas informações. Esta localizado no lado ocidental da cordilheira e está a 3 quilômetros da aduana. É uma sequencia de 35 curvas de 180 graus que permitem descer 641 metros em pouco mais de 20 quilômetros. Ao finalizar as descida deve-se olhar para trás para ver a imponência das montanhas. Dali para frente o transito começa a ficar mais intenso e por ser todo em pista simples até Los Andes fica praticamente impossível realizar ultrapassagens.

Os motoristas chilenos respeitam a risca as placas de pare e chega a ser cômico para nós acostumados a somente diminuir a velocidade, dar uma olhada e seguir. Um pouco antes de Los Andes há uma linha férrea e o motorista a minha frente parou por completo antes de atravessá-la. Para não correr o risco de receber uma multa fiz o mesmo, mas confesso que não me senti confortável em parar no meio da estrada. Logo após esta linha férrea saímos a esquerda em direção a Santiago. A partir deste ponto até Santiago a pista é dupla e perfeita com alguns pedágio. Já no começo desta estrada paramos para fazer um lanche e esticar as pernas. Aproveitei para inserir no GPS o endereço do hotel.

Chegamos a Santiago no pior horário que pode existir em uma grande cidade, as 19:00 horas. Já na entrada não “acreditei” no GPS e não virei aonde ele indicou, automaticamente ele refez a rota e após alguns zig zags retornei a avenida principal. Este desvio serviu para ver que mesmo os bairros mais afastados e pobres da cidade são organizados, com toda a infra-estrutura básica e as casas bem cuidadas. Após 30 minutos em grandes avenidas, túneis e alguns engarrafamentos chegamos ao hotel.

Fiquei ao lado da moto e minha mulher foi a recepção do hotel que havíamos reservado ainda em Curitiba, porém ela retornou muito brava pois disseram que houve overbooking e nos transferiram para um hotel na próxima quadra sem ônus. Fomos até ele e nossa raiva logo passou, pois nos transferiram para o Hotel Neruda que até vimos durante as nossas pesquisas, porém não reservamos por ser melhor e bem mais caro que o outro. Fizemos o check-in e fomos para um merecido banho de banheira. O hotel é show de bola!

Saí somente para ir a lanchonete na esquina comprar o nosso jantar e antes das 23:00 já estávamos dormindo.










Dia - 16/03/2011
Santiago (CH), 0 km

Neste dia acordamos mais tarde e quase perdemos o café da manhã, pois achei que existia uma hora a menos em relação ao Brasil. Li durante as minhas pesquisas sobre esta diferença, o GPS atrasou uma hora quando cruzamos a fronteira e o relógio do computador do check-in confirmava. No entanto o Chile estava em horário de verão, ou seja não havia diferença. O pessoal do restaurante foi bacana e nos deixou tomar o café-da-manhã que é ótimo.

As 11:00 saímos do hotel em um taxi em direção a Plaza das Armas onde descemos e fomos conhecer a sede do Correio, Catedral e a Municipalidade (prefeitura). A arquitetura e a organização de tudo é fantástica. Tudo muito limpo.

Ao entrar na Catedral estava sendo cantado pelo coral a música Ave Maria (em espanhol, obviamente), minha mulher e eu ficamos arrepiados, e olha que nem católico sou. Tiramos muitas fotos e curtimos a bessa o lugar, mesmo não havendo a ostentação que temos nas igrejas de Salvador. Dali seguimos pela rua Ahumada em direção a Casa de la Moneda, sede do Governo Federal – fotos e mais fotos. Retornamos pela rua Ahumada até a Plaza das Armas e de lá fomos até o Mercado Central, distante umas 8 quadras. Neste caminho pudemos comprovar o que o taxista falou, Santiago é uma cidade muito segura, com policiamento ostensivo. É claro que como em toda cidade grande não podemos dar bobeira.

Ao chegar no Mercado Central fiquei decepcionado, esperava algo como o Mercado Municipal de São Paulo, porém o que encontrei foi algo bem menor e sem graça. Há muitos bancas de pescados, com grande variedade, uma área pequena com artesanatos e uma praça de alimentação. Esta último bem movimentada, mesmo sendo quase 3 horas da tarde. Demos uma volta e optamos em parar no restaurante El Galeón, onde pedimos uma Centolla para dois. Para quem não conhece é um crustáceo (parecido com o carangueijo), porém gigante e só dá em águas muito frias. É um prato caro, mas que vale a pena já que não encontramos no Brasil. Com acompanhamentos e bebidas saiu por 68340 pesos, o equivalente a R$234,00.

Após abastecidos fomos ao Parque Forestal a pé, pois gostamos de caminhar (quando possível) para conhecer melhor as cidades. Percorremos o parque praticamente inteiro. Ele é na realidade uma área arborizada entre duas grandes avenidas, formando um corredor verde muito bonito entre elas. Saímos dele na ruo Pio Nono já no bairro Bela Vista em direção ao Cerro San Cristóbal. Nesta rua está concentrada uma quantidade enorme de botecos que estavam abrindo as suas portas para os happy hours.

Chegamos no parque que além do funicular que leva ao topo do cerro tem um zoológico. Optamos em somente subir o funicular que é bem extenso. São 485 metros de percurso com uma inclinação de 45 graus que nos eleva a 260 metros de sua base. Ao chegar no topo tem-se um visual magnífico da cidade e da silueta da cordilheira. Ela está no horizonte magestosa, porém camuflada pela poluição, uma pena. Ainda no topo há uma linda capela construída em pedra em meio as árvores. No ponto mais alto do cerro foi construída uma estátua da Nossa Senhora de Guadalupe que é possível ser vista de praticamente toda a cidade.

Existe ainda um local para missas ao ar livre, onde os bancos ficam em degraus e entre cada banco existem floreiras, as quais estavam carregadas de flores. Sentamos em um desses bancos e ficamos curtindo a paisagem da cidade e o sossego do lugar por um bom tempo, ficamos mais de duas horas lá em cima.

Como disse a pouco gostamos de andar e por isso voltamos a pé para o hotel, chegando nele a noite para tomarmos um bom banho e fazermos um lanche. Antes de nos recolhermos para descansar pegamos um taxi e fomos fazer um city tour noturno. Paramos para tirar fotos da Plaza Baquedano e sua fonte iluminada, Plaza das Armas e Casa de la Moneda. Muito bom o passeio, recomendo.