Dias 13 a 18

13º Dia - 23/03/2011
Osorno (CH) – Bariloche (AR), 293 km

                Mesmo sabendo que seria uma viagem truncada (por conta das paradas) optamos em não sair muito cedo pois iríamos cruzar a cordilheira e planejamos para estar no ponto mais alto próximo da hora do almoço com o objetivo de minimizar o frio. As 10:00 saímos do hotel e rumamos direto para a estrada internacional como é chamada na região, inclusive não precisa nem usar o GPS, há muitas placas no caminho com este indicativo.

Nos primeiros 10 quilômetros da estrada o trânsito é relativamente complicado pois há universidades e o aeroporto de Osorno, mas depois disso é a estrada que todo motociclista pediu para ter. É cheia de curvas gostosas de deitar a moto, com pouco transito, pavimentação perfeita e paisagem de deixar qualquer um boquiaberto. Manti a velocidade entre 50 e 100 km/h pois o objetivo do dia era curtir a estrada / paisagem, mas se quisesse dava para andar mais em alguns trechos.

A primeira parada foi as margens do lago Totora, depois seguimos pela estrada curtindo e parando para fotos, nos inúmeros rios que cruzam a estrada, cachoeiras e montanhas. Infelizmente o tempo estava nublado, confirmando o que o dono da pousada de Pucon nos disse, e por isso não era possível ver o cume dos morros e vulcões – mas mesmo assim tudo impressiona pela beleza.

Prevíamos abastecer em Nilquen ainda no Chile, entretanto rodamos 20 quilômetros a mais do que necessário para chegar a cidade e nada dela. Fiz a constas e cheguei a conclusão que iria chegar com o combustível na estica em Villa Angostura na Argentina. Decidi retornar para procurar o posto por prudência. Como a paisagem é tão bela o retorno nem foi um problema. Voltei 21 quilômetros agora prestando mais atenção nas poucas construções a margem da estrada e menos na paisagem. Eis que então encontro a “cidade”. Uma pousada e duas bombas de combustível. Detalhe só as bombas, afastadas a uns 50 metros da estrada e nada mais. Nem placas existiam, por isso passei direto. Para quem vai do Chile para a Argentina a “cidade” fica a esquerda da estrada.

Voltamos a estrada, agora no sentido Argentina, e novas paradas. Uma delas foi na ponte sobre o rio Gogo, o qual semanas depois vi pela televisão com muito mais água e ao invés de fria a água estava a 45 graus em função da erupção do vulcão Puerhué. O rio é lindo e a esquerda da estrada deste mesmo ponto é possível ver 5 cachoeiras despencar dos morros.

Deste ponto em diante a estrada começa a ficar mais ingreme em uma subida constante e a vegetação vai ficando mais densa e muitas árvores de grande porte. Árvores estas que não existem no Brasil, pois só brotam em locais frios – são da família das coníferas, espécie Lengas. A esquerda da estrada há uma cachoeira chamada Salto de Los Novios e uns 50 metros a frente há um estacionamento para carros. Como a moto cabe em qualquer lugar parei bem próximo a trilha que da acesso a vista frontal e completa do salto. Parada obrigatória para fotos e curtir a paisagem. Ficamos mais de meia hora ali, valeu.

Seguindo em frente a estrada passa a ficar mais ingrime ainda e a curvas bem mais fechadas. Desta forma contorna-se inúmeras montanhas e vulcões, sendo o mais majestoso o Puerhué que dá nome ao parque. Ele estava com parte do seu cume encoberto mais deu para ter uma boa idéia do seu tamanho. Detalhe que passamos por ele exatamente 2 semanas antes de entrar em erupção.

Depois de muitas curvas, descidas, subidas e paradas para foto chegamos a aduana chilena onde deu tudo certo e relativamente rápido (uns 40 minutos). A minha estimativa de quanto levar espécie foi praticamente perfeita, pois não tinha quase mais nada em pesos chilenos. Para não ter que me preocupar posteriormente com cambio fiz ali mesmo na aduana a troca. Troquei 77000 pesos chilenos  em 570 pesos argentinos e as moedas torrei em chocolates, os quais viemos comer exatamente na fronteira entre os dois países quilômetros a frente da aduana.

Entre uma aduana e outra são 40 quilômetros, dois quais acho que não há um quilômetro sequer em que a paisagem seja feia. São Pedro parece saber aonde estão as aduanas e determinou que entre elas o frio deveria pegar, e assim foi – a temperatura deve ter caído das 10 graus para em torno de 3 graus, sendo que exatamente na divisa, enquanto tirávamos fotos das placas e degustávamos nosso almoço (chocolates) começou a ventar e acredito que a sensação térmica deva ter baixado dos zero graus.

Após o marco da divisa, que é o ponto mais alto do caminho, a estrada passa a ser nos padrões argentinos, sem buracos, mas com acostamento somente em rípio. A paisagem continua a mesma (sem respeitar as linhas traçadas pelos homens), ou seja, muitas montanhas, rios e cachoeiras lindas. Após aproximadamente 20 quilômetros de descidas e chegamos a aduana Argentina, onde também tudo foi muito rápido e em menos de 20 minutos estávamos prontos para continuar.

Agora a estrada passa a ser um pouco menos ingreme e começam a surgir os lagos, sendo que o primeiro não está a 1 quilômetro da aduana. O mais bonito, na minha opinião, é o lago Espejo distante uns 40 quilômetros da fronteira. Gostamos tanto do lago que ficamos no mirante quase um hora. Deste ponto em diante as paradas foram mais rápidos, somente para tirar fotos, dos lagos Correntoso, Nahuel Huapi  e da cidade de Villa Angostura, isto porque já estávamos ficando cansados e com fome, pois o nosso troco só serviu para atiçar a fome.

Chegamos ao hotel as 16:45, ou seja, levamos 6 horas e 45 minutos para percorrer 293 quilômetros, nos quais cada minuto foram curtidos pra valer, mesmo com o céu nublado. Não sou um cara tão viajado assim, mas do que conheço posso afirmar, é a estrada mais bonita que percorri – um dia voltarei percorrê-la, espero que em breve.

Após muito bem instalado no hotel, fomos “almojantar”. Para comemorar o belo dia que vivemos optamos em comer fondee, regado a vinho e coca-cola (para mim que não bebo) em um restaurante bem aconchegante. Ficamos mais de 2 horas no restaurante e já com o sol se pondo demos uma rápida volta pelo centro da cidade e retornamos para o hotel.













14º Dia - 24/03/2011
Bariloche (AR), 0 km

                Depois de uma noite bem descansada saímos para passear. O céu ainda estava nublado e o termômetro localizado em frente ao hotel marcava 8 graus, isto as 10:30 da manhã. Fomos passear no centro cívico e depois fomos a calle Mitre, a rua das compras (tem que segurar o cartão!). Entre uma loja e outra eu olhava para o céu, afinal queria era passear e não fazer compras, pelo menos naquele momento. Próximo do meio-dia o céu limpou e ficou completamente sem nuvens. Corri para o local de venda dos ingressos de acesso / transporte ao cerro Otto.

                As 12:30 estavamos dentro do ônibus indo em direção a base do cerro, onde pegamos um teleférico. Este percorre uma distância de 2100 metros e nos leva direto ao topo do cerro que está a 1405 msnm. O visual deste cerro é de tirar o fôlego, pois é possível ver o lago Nahuel Hapui praticamente inteiro, bem como o braço Rico (outro lago) e inúmeras montanhas com seus cumes nevados. Esta era a segunda vez que eu visitava Bariloche, a outra foi quando retornava do Ushuaia em abril de 2008. Ambas no verão, fico imaginando como é a paisagem no inverno, onde tudo deve ficar coberto de branco – só que neste caso não dá para ir de moto. Almoçamos no restaurante giratório e curtimos muito a paisagem, retornando para a base somente as 16:30.

                Descemos do ônibus na porta do hotel e depois de um banho fomos passear no centro, deixa eu traduzir, fazer mais compras no centro. Depois de bater perna voltamos ao mesmo restaurante de ontem e comemos fondee mais uma vez.







15º Dia - 25/03/2011
Bariloche (AR), 0 km

                Para este dia tinha programado fazer a trilha que leva as cachoeiras do Cerro Tronador, porém amanheceu chovendo e rapidamente abortamos o plano. Nem cheguei a sair da cama, pois eram 7:00 horas, continuei dormindo por mais duas horas. Enquanto tomávamos café discutíamos (no bom sentido) o plano do dia e optamos em ficar pelo centro curtindo a cidade. Entre uma pancada e outra de chuva passeamos pelas margens do lago, praças, centro cívico e calle Mitre (obviamente rolaram mais compras). Retornamos para o hotel somente a tardinha cansados de bater perna.

                Chegou a hora de arrumar as malas para retornar e quando coloquei tudo sobre a cama bateu o desespero, tinha muita coisa!!! Tudo bem que a Carla iria retornar de avião, mas mesmo assim, fiquei preocupado que não coubesse na mochila de trekking que levamos – olha que ela tem capacidade de 75 litros! Na ida esta mochila foi levada por mim até Mendoza e dentro dela estavam as roupas de moto da Carla (capacete, jaqueta, joelheira, luvas, capa de chuva, etc). Optamos em eu levar para não correr o risco de se estraviar em algum aeroporto e atrasarmos nossa viagem. E a idéia era enche-la com compras e foi o que fizemos, tudo bem que levei quase 2 horas para arrumar a bagagem na mochila, na mochila de mão (que a Carla trouxe com ela e serviu para nossos passeios – ela saiu em várias fotos, rsrsrs), nos alforjes, baú e bolsa de tanque. Ao total nossa capacidade de carga ficou em 104 litros na moto e 100 litros nas mochilas. Enchemos tudo, sem espaço para mais nada!!!!

                Tentei dormir cedo, mas não foi possível pois estava ancioso pelo dia seguinte, no qual faria um longo trecho de viagem saindo da região patagônica. Este trecho já havia feito 3 anos antes e sabia que era bem deserto e com poucos postos.




16º Dia - 26/03/2011
Bariloche (AR) – General Acha (AR), 863 km

                 Como o vôo da Carla era somente meio-dia fiquei com ela no hotel até as 10:45 quando nos despedimos e ela foi para o Aeroporto e eu para a estrada. Na noite anterior fez muito frio e dava para ver no topo das montanhas mais neve do que nos dias anteriores e por conta disso o termômetro marcava 5 graus. Fui até o posto, abasteci, me agasalhei bem e enrolei o cabo.

                Quando retornava do Ushuaia sai de Bariloche a noite e perdi uma paisagem maravilhosa, pois a ruta 40 neste trecho acompanha o rio Limay com águas bem transparentes. Por esse motivo fiz este trecho parando várias vezes para curtir bem a paisagem. Após 130 quilômetros de curvas a estrada começa a ficar mais plana e com longas retas e partir daí deu para enrolar bem o cabo. Parei em Piedra del Alquila para abastecer e almoçar. O vento estava forte e o frio também, mas como estava preparado não passei frio.

                Deste ponto em diante a viagem se tornou bem mais monótona e só parei para abastecer. A única coisa diferente é a travessia por Neuquém, que é uma cidade grande para a região e possui muitos semáforos  (perdi mais de 40 minutos para cruzá-la). É claro que nas paradas dava um tempo para ir ao banheiro, fazer um lanche e esticar as pernas. No posto em Puenche já estava escureçendo e fiquei na dúvida se seguia ou não até a General Acha conforme havia programado. Resolvi ficar, mas quando perguntei ao frentista se havia bons hotéis no vilarejo ele me disse que não. Pensei, pensei e decidi ir até General Acha distante 158 quilômetros dali.

                A estrada como quase todo o trecho a partir de Piedra del Alquila é uma reta, sem transito (exceto em Neuquem) e muito boa. Acendi os faróis auxiliares, acelerei muito e fiz o trecho em 1 hora e 5 minutos chegando no posto de gasolina na entrada de General Acha as 20:52. Abasteci e perguntei por hotéis. Os dois indicados estavam lotados e o terceiro era uma espelunca. O quarto hotel, era um pouco (mas só um pouco) melhor do que o terceiro, foi nele que me instalei.






17º Dia - 27/03/2011
General Acha (AR) – Paraná (AR), 945 km

                Levantei as 7:00 e as 7:25 já estava na estrada, para mais um dia de retas intermináveis. Até Santa Rosa fez um pouco de frio, mas nada de matar, algo em torno de 8 graus. Passei pela cidade que estava “morta” e parei no último posto antes de sair dela. Enquanto fazia minhas anotações e tomava meu café da manhã apareceu um argentino de moto que retornava para Buenos Aires depois de 10 dias de estrada. Enquanto conversava com ele foram aparecendo mais motos e 20 minutos depois o grupo se formou, estavam em 5 motos mais uma camionete de apoio. Nestes  poucos minutos que conversei com o primeiro a chegar já pude confirmar o que penso de viajar com grupos grandes – é um stress. Ele já estava pronto (moto abastecida, revisada e café tomado), enquanto o último que chegou tinha tudo isso para fazer. Eu estaria muito puto e se bobiar já teria partido!

                Dali em diante o transito começou a ficar mais intenso e os postos mais cheios, pois estava me aproximando de Buenos Aires, mas antes de chegar muito perto peguei a esquerda na ruta 33 em direção a Rivadávia. Este trajeto é por estradas secundárias e evita passar pela periferia de Buenos Aires. Em termos de distância da elas por elas. Quando cheguei a General Villeras levei um susto com a quantidade de carros para abastecer. Todas as bombas tinham pelo menos uns 10 veículos. Perguntei para o senhor que estava no carro da frente o porque daquilo tudo e ele me disse que hoje era o fim de um feriado e todos estavam retornando para casa. Dia 24/03 é feriado nacional, é o Dia da Misericódia, dia em que comemoram o fim da ditadura militar.

                Deixei a moto na fila, fui ao banheiro, voltei para empurrá-la, fui a lojinha comprar meu almoço e voltei para a moto. Enquanto estava na fila fui almoçando. Depois de 1 hora no posto segui viagem até Rosário, Santa Fé e Paraná. Nos 100 quilômetros antes de Rosário a estrada está bem ruim e com muitos caminhões, mas de Rosário a Santa Fé é toda duplicada, porém com transito muito intenso. Passei por dentro de Santa Fé, agora sem chuva o que permitiu ver melhor a cidade. Não parei para fotos pois estava cansado e queria chegar logo a Paraná, instalar-me e tomar um bom banho. Ao sair do túnel fui em direção ao centro da cidade e parei no primeiro posto as 19:15, onde abasteci e liguei para casa para ver se a Carla tinha chego bem – tudo certo com ela, fora que perdeu a conexão e teve que durmir em São Paulo.

                Retornei para e hospedei-me no hotel localizado na “boca” do túnel. É um hotel bom e com uma bela vista da cidade e do rio Paraná.


18º Dia - 28/03/2011
Paraná (AR) – Ijuí (RS), 834 km

                O café do hotel só era servido a partir das 7:00, por isso arrumei tudo na moto, fiz o check-out e as 6:50 estava no restaurante e por sorte a garçonete permitiu que eu começasse o café com o restaurante ainda fechado. As 7:05 estrei na estrada que nos primeiros 50 quilômetros estava muito movimentada nos dois sentidos impossibilitando ultrapassagens e andar acima dos 100 km/h. Após este trecho o sol apareceu e como num passe de mágica o transito sumiu.

                Parei para abastecer num vilarejo chamado Sauce de la Luna e enquanto fazia a revisão básica observei que alguns elos da correntes estavam prendendo. Como estava usando graxa branca e não levava óleo entrei na borracharia ao fundo e pedi por um pouco de óleo de motor velho que vi num galão. O senhor colocou um 100 ml numa garrafa de água e me deu. Joguei aquilo na corrente e com um pedaço de papel que peguei do lixo dei uma espalhada – um trabalho de primeira..... Assim que entrei no Brasil comprei um litro de óleo para corrente e um pincel em uma loja de ferragens e dali em diante consegui manter a corrente bem lubrificada e sem prender mais os elos. Deste dia em diante abandonei o uso da graxa branca, mesmo ela sendo bem mais prática.

Como este trecho havia feito na ida e não tem muitos atrativos só parei para abastecer e tirar algumas roupas. Cheguei a Paso de los Libres as 11:00 e parei no posto que existe a poucos metros da aduana. Nele falei para a frentista. Coloque 33 pesos (que era o que eu tinha) ou até encher o tanque. Ela encheu o tanque e a conta ficou em 33,75 pesos, ou seja, só me restaram 0,25 pesos, que obviamente não fiz cambio.

A aduana Argentina foi bem rápida, não deu mais de 10 minutos. Subi na moto, cruzei entrei na ponte e parei na sua outra cabeçeira para tirar fotos da placa “Bem vindo ao Brasil”.

Saí de Uruguaiana e menos de 10 quilômetros a frente passei por um posto que anexo tem uma churrascaria. Como haviam muitos caminhões resolvi dar a volta e parar, afinal caminhoneiro não para em lugar ruim para comer e eu fazia vários dias que não comia um churrasco. Tinha duas opções, PF e rodízio, adivinha por qual optei.... As carnes estavam todas boas, em especial a costela, tanto que comi uns 4 pedaços! Antes de pegar a estrada novamente fiquei descansando na sombra por uns 20 minutos com aquela sensação de ter conseguido concluir mais um sonho de minha vida, isto porque nem concluído estava, mas só o fato de estar no Brasil já traz essa sensação. Quem já fez uma viagem como esta sabe do que eu estou falando, é maravilhoso.

De Uruguaiana até Ijuí que era o meu destino do dia só parei mais uma vez, em São Borja, somente para abastecer e tomar uma coca-cola, afinal estava calor e eu tinha almoçado churrasco. Ao entrar em Ijuí fui em direção do hotel seguindo o GPS. Numa esquina fiz uma besteira gigantesca, ao cruzar a preferencial só olhei para um lado, pois achei que era mão única. Não era e vinha carro, por sorte este estava devagar e parou. Parei no posto na esquina seguinte para abastecer e passar o susto. Passado o susto fui ao hotel. Me instalei tomei o melhor banho da viagem e fui fazer um city tour a pé.

A noite na cama liguei a TV e assisti ao jornal nacional, como é bom ver televisão em português!